Mais da metade da população brasileira apresenta excesso de peso e a preocupação, diante desse cenário, vai muito além da questão estética: trata-se de um problema de saúde pública porque, com o aumento da expectativa de vida no Brasil, cresce também o risco dessas pessoas desenvolverem outras comorbidades, como doenças cardiovasculares, diabetes, problemas articulares e câncer. A alimentação equilibrada é a principal ferramenta para reverter essa tendência e garantir a qualidade de vida da população na terceira idade.
Hoje, o excesso de peso já atinge 55,4% da população, enquanto a obesidade afeta 19,8%. Os dados fazem parte do Mapa da Obesidade, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abes0) e tomam como base a Pesquisa Vigitel 2019, do Ministério da Saúde.
A nutricionista Juliana Soares, especialista em Emagrecimento Feminino e Qualidade de Vida, defende a adoção da “dieta divina” para melhorar esses índices. Trata-se, segundo ela, do resgate da alimentação natural, que ela classifica como “comida de verdade”. “Precisamos voltar a comer comida. Frutas, verduras, carnes… Sem terrorismo nutricional. Se Deus fez, é comida”, argumenta, numa crítica ao uso excessivo de alimentos industrializados e ultraprocessados, que têm contribuído para o aumento de doenças metabólicas.
A abordagem da nutricionista é reforçada pelo estudo Life expectancy gains from dietary modifications (Ganhos na expectativa de vida com modificações na dieta), publicado no American Journal of Clinical Nutrition, que mostra que mudanças na dieta, com ênfase em alimentos naturais, está associada ao aumento da expectativa de vida. A pesquisa revela que padrões alimentares ricos em vegetais, proteínas de origem vegetal e gorduras saudáveis reduzem o risco de doenças crônicas e promovem longevidade saudável.
Estilo de vida
Juliana destaca que a longevidade vai além da alimentação e envolve pilares como sono de qualidade, redução do estresse, exposição ao sol, prática regular de atividade física e manutenção de bons relacionamentos. “Precisamos olhar para o regresso, para o simples: comer comida de verdade, nos desconectar do excesso de informações e encontrar equilíbrio na rotina”, afirma.
A nutricionista reforça que a alimentação deve ser um fator de conexão entre pessoas, um momento de pausa e de encontro. “Somos os únicos seres que se reúnem para comer e isso é parte da nossa humanidade. Voltar a comer alimentos naturais, sentar-se à mesa com a família, rir, movimentar-se e cuidar do sono são atos que promovem uma vida plena e saudável”, pontua.
Estudos realizados em “zonas azuis” – regiões do mundo onde as pessoas vivem significativamente mais tempo, como Okinawa (Japão), Ikaria (na Grécia) e Sardenha (Itália) –mostram que uma dieta rica em vegetais, leguminosas, grãos integrais e gorduras saudáveis é um denominador comum entre essas populações. Essas dietas são tipicamente baixas em alimentos processados, carnes vermelhas e açúcares refinados, fatores que estão associados ao aumento de inflamações e doenças crônicas.
A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda uma alimentação variada e balanceada como base para um envelhecimento saudável. Além disso, a hidratação adequada e a prática de atividades físicas são complementares a uma dieta nutritiva, garantindo a manutenção da vitalidade e bem-estar ao longo dos anos.
A Nutricionista Bruna Noronha também trouxe dicas de alimentos essenciais para uma longevidade saudável, além de como ter uma alimentação saudável depois dos 60 anos. Assista!
Dicas nutricionais para viver mais e melhor
1. Modelo de Dieta Mediterrânea: Inspirada nos hábitos alimentares de países como Itália e Grécia, a dieta mediterrânea é uma das mais estudadas no contexto da longevidade. A nutricionista Juliana Soares recomenda o consumo de azeite de oliva, rico em antioxidantes, e sugere a inclusão de pequenas doses de vinho ou suco de uva, que contêm polifenóis benéficos para a saúde cardiovascular. “Esses alimentos não só ajudam a manter o coração saudável, mas também têm propriedades anti-inflamatórias que retardam o envelhecimento celular”, explica.
2. Redução dos ultraprocessados: A relação entre alimentos ultraprocessados e doenças metabólicas é clara. Juliana alerta que o consumo excessivo desses produtos, ricos em açúcares, gorduras saturadas e sal, está diretamente ligado ao aumento de condições como diabetes tipo 2 e Alzheimer, – já chamado de “diabetes tipo 3”. “Precisamos achatar a curva glicêmica, controlando o metabolismo da insulina para prevenir essas doenças da vida moderna”, destaca.
3. Frutas, vegetais e superalimentos: A inclusão de frutas no dia a dia é essencial, especialmente após os 60 anos. A nutricionista ainda recomenda o consumo de alimentos funcionais como cúrcuma, gengibre, cacau, castanhas e que são ricos em compostos bioativos e antioxidantes. “Esses superalimentos não apenas nutrem o corpo, mas também têm funções específicas que beneficiam os sistemas imunológico e cardiovascular”, ressalta.
4. Ervas Frescas e Especiarias: Incorporar ervas e especiarias na alimentação é uma estratégia simples e eficaz para aumentar a ingestão de antioxidantes e compostos anti-inflamatórios. Juliana enfatiza que “não existe um único alimento milagroso, mas o conjunto de uma dieta rica e variada é o que promove o equilíbrio do corpo e a longevidade”.
A transformação da saúde da população brasileira passa, inevitavelmente, por uma reavaliação dos nossos hábitos alimentares e de vida. A adoção de uma dieta equilibrada, rica em alimentos naturais e nutritivos, não apenas combate o excesso de peso, mas também se revela fundamental para a prevenção de doenças crônicas e promoção de uma vida longa e saudável.
Junto com uma rotina que prioriza o sono, a atividade física e as relações sociais, podemos construir um futuro onde a qualidade de vida e a longevidade estejam ao alcance de todos.