Manter a mente ativa é essencial para um envelhecimento saudável e contribui para promover não só a saúde física, mas também psicológica e cognitiva. A prática de atividades que estimulam o cérebro pode trazer benefícios significativos para a qualidade de vida para as pessoas, principalmente a partir dos 60 anos, contribuindo para a prevenção de doenças neurodegenerativas e proporcionando um envelhecimento ativo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define o envelhecimento ativo como “o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas”.
O médico psiquiatra Marcelo Kimati, professor de Saúde Coletiva na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e que hoje está na assessoria da presidência da Fundacentro do Ministério do Trabalho e do Emprego, fala da importância de estar constantemente aberto a novos aprendizados e conceitos, principalmente a partir dos 45 anos. Segundo ele, o estudo de novos idiomas, por exemplo, estimula outras formas de pensar, de raciocinar. “Novas línguas exigem isso, pois envolvem conceitos diferentes, uma visão diferente de mundo e isso ajuda muito a evitar o processo de rigidez cognitiva”, comenta.
A importância dos exercícios físicos e cognitivos
Praticar exercícios físicos regularmente, como caminhadas, dança, natação e hidroginástica, melhora a coordenação, a mobilidade e a saúde cardiovascular, além de ampliar o contato social, um fator essencial para manter a mente ativa. Associar essas atividades a exercícios de memória e estimulação cognitiva, como jogos de tabuleiro, palavras-cruzadas e até o uso de videogames específicos para idosos pode potencializar os benefícios para o cérebro.
O uso da música, por exemplo, é uma ferramenta eficaz para estimular a memória e a emoção, resgatando experiências arquivadas. Ouvir, cantar e tocar instrumentos são atividades que podem ser facilmente inseridas na rotina dos idosos, proporcionando prazer e estímulo cognitivo.
Sono, conhecimento e felicidade
O sono também desempenha um papel importante na manutenção da saúde cerebral. O pesquisador Derk-Jan Dijik, da Universidade de Surrey, na Inglaterra – autor do estudo Sleep e especialista na fisiologia do sono – constatou que as oito horas de sono recomendadas como ideais tendem a diminuir com o avançar da idade. Enquanto as pessoas entre 20 e 30 anos dormem, em média, 7h23 horas por noite, entre 66 e 83 anos a média baixa para 6h51. “A partir de uma determinada idade na vida adulta, é importante desenvolver o hábito de dormir regularmente porque é uma forma excelente de proteger o cérebro, o sistema nervoso central”, pontua Kimati, destacando como um dos cuidados que mais merecem atenção.
A qualidade do sono, inclusive, é fundamental para a regeneração do cérebro e a prevenção de doenças como o Alzheimer. A prática de hábitos saudáveis, como manter uma dieta rica em ômega-3 e fibras, também contribui para a preservação das funções cerebrais.
Um outro estudo, divulgado na revista científica Journal of Topics in Cognitive Science, revelou que a lentidão cognitiva observada em idosos não se deve necessariamente a perdas cognitivas, mas ao acúmulo de conhecimento ao longo dos anos. Além disso, a pesquisa Estudo Longitudinal, de Seattle, revelou que apesar das habilidades matemáticas não serem exemplares e nem tão velozes nessa faixa etária, os idosos apresentavam melhor desempenho em questões como vocabulário, orientação espacial, memória verbal e, principalmente, resolução de problemas. Na opinião dos pesquisadores, isso pode ter relação ao acúmulo de certos tipos de conhecimento ao longo dos anos, a inteligência cristalizada, e ao fato de os idosos desenvolverem, com a maturidade, a capacidade de entender o que é realmente importante.
Além disso, uma pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostrou que 82% dos brasileiros acima dos 60 anos encaram a terceira idade de forma positiva, associando sentimentos como tranquilidade, felicidade e disposição para realizar atividades do dia a dia. O levantamento foi realizado em 2018 em todas as capitais brasileiras. Os entrevistados atribuíram, em média, nota oito para o grau de felicidade com o atual momento da vida. Sentimentos como tranquilidade (36%), felicidade (30%), disposição para realizar atividades do dia a dia (22%), independência (20%) e produtividade para se manter ativos (20%) apareceram com destaque. Além disso, 18% disseram estar saudáveis e 12% ter planos para o futuro.
Depressão na terceira idade: um desafio silencioso
A depressão é uma condição que afeta muitos idosos, agravada por fatores como doenças crônicas, dificuldades de locomoção e perdas cognitivas. Uma pesquisa de 2016 da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) mostrou que 10% das pessoas acima dos 60 anos apresentam quadros depressivos que requerem intervenção clínica. A identificação precoce e o tratamento adequado são fundamentais. Incentivar o envolvimento dos idosos em atividades sociais, artísticas e culturais pode ser uma poderosa ferramenta para combater a depressão.
Para a OPAS, os distúrbios depressivos são caracterizados pela tristeza persistente, além da falta de interesse e de energia para as atividades diárias. No entanto, doenças crônicas, dificuldades de locomoção, perdas cognitivas e a diminuição dos sentidos, como a visão e audição, são problemas que podem desencadear a doença na terceira idade.
Para evitar essa e outras doenças mentais, Marcelo Kimati reforça a importância da socialização na terceira idade. “Manter vinculações sociais, contato com outras pessoas é algo que exige certa flexibilidade, exige a solução de problemas novos e de lidar com situações novas. Ter uma vida social e manter uma boa sociabilidade, mesmo após uma determinada época ou momento da vida, é algo muitíssimo importante e contribuiu para reduzir a atrofia muscular que vem ao longo dos anos”, afirma o psiquiatra.
O Alzheimer, principal causa de demência no mundo, afeta cerca de 1,2 milhão de brasileiros, de acordo com a Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz). A maioria dos casos ainda não foi diagnosticada e a doença representa entre 55% e 60% de todas as formas de demência em idosos.
A Abraz orienta que a estimulação cognitiva diversificada ao longo da vida é apontada como a principal forma de retardar o avanço da doença. Manter hábitos saudáveis, como evitar o estresse, ter uma alimentação balanceada e garantir um sono de qualidade, são medidas preventivas recomendadas pelos especialistas. Atividades como aulas de pintura, instrumentos musicais e jogos de tabuleiro promovem estímulos constantes ao cérebro, ajudando a preservar suas funções.
Dicas para manter o cérebro ativo
Evite situações que provoquem altos níveis de ansiedade: o estresse produz hormônios indesejáveis para o cérebro;
Mantenha uma dieta saudável e equilibrada: consumir menos açúcar e mais alimentos ricos em fibras e ômega-3.
Sono regular: dormir bem pode manter os níveis da toxina beta-amiloide mais baixos, o que ajuda a prevenir os sintomas de Alzheimer;
Produção artística e intelectual: aulas de pintura, instrumentos musicais, idiomas e partidas de jogos de tabuleiro são algumas das atividades que promovem estímulos cognitivos constantes e diversificados.
A manutenção da saúde mental e cognitiva na terceira idade é fundamental para garantir um envelhecimento ativo e saudável. A combinação de atividades físicas, estímulos cognitivos, uma alimentação equilibrada e uma boa qualidade de sono forma a base de um estilo de vida que não apenas previne doenças neurodegenerativas, mas também promove a felicidade e a satisfação com a vida.