Apresentado por

Lourival Vieira de Jesus trabalha seis dias por semana. Parte de suas tarefas semanais é na roça, colhendo verduras, trabalhando a terra de maneira sustentável. Outra parte fica por conta da organização das feiras que participa. Às quartas, quintas e sábados são os dias mais puxados. Acorda 3 horas da manhã, toma café reforçado e 3h30 já está na estrada. Perto das 4 horas chega em Curitiba, monta a barraca, organiza os produtos e 6h30 já começa a atender os primeiros clientes.
Mesmo diante de uma rotina puxada, Lourival vê nela qualidade de vida. No início dos anos 2000 uma virada de chave aconteceu. Preocupado com a própria saúde e a saúde dos filhos pequenos, ele decidiu abandonar o cultivo convencional de hortifrúti para trabalhar só com orgânicos.
“Nos anos 2000 eu resolvi migrar. Naquela época, até 2000, a gente trabalhava com o pessoal, com o tomate. Era agrotóxico demais, o tomate criado no veneno me incomodava. Então eu falei com o pessoal do Emater e migrei por conta. Eu tinha na época dois filhos recém nascidos e isso me fez mudar. Eu pensava: ‘eu nunca vou trazer meus filhos para trabalhar comigo na lavoura’. Mas eu estava errado. E quando eu mudei para a produção orgânica, eles vieram trabalhar comigo”, revela.
Quanto vale um produto de qualidade, que respeita a terra e o agricultor? Os produtos orgânicos ainda sofrem o preconceito do público geral por serem caros e até feios. Concepção essa que ficou para trás, no passado. Com o bom manejo da terra e o uso de adubo de qualidade, hoje as verduras e frutas orgânicas esbanjam qualidade, beleza e muito sabor.
Com o passar dos anos, o valor os produtos orgânicos têm se aproximado dos convencionais. “O preço do convencional oscila muito, por causa da oferta e procura no Ceasa, enquanto que o preço do orgânico permanece o mesmo o ano todo. “Tem coisas que são bem mais caras, outras até mais em conta, como o alface. Couve-flor, brócolis, já não tem tanta diferença [de preço]”, esclarece Lourival.
Da propriedade para a mesa
Na propriedade onde mora, Lourival cultiva quase todo tipo de verdura, batata salsa, feijão, milho, morango, de tudo um pouco. Ele colhe milho seco e transforma em fubá, canjica, quirera. Da roça do seu Lourival, direto para a mesa do bancário aposentado Claudio Augusto Probst, que frequenta a feira de orgânicos do Passeio Público semanalmente há 25 anos.

“É um resgate de uma alimentação natural, ancestral, com saúde e sabor. Comer o milho verde quando é época, tomate e morango. Faço geleia com açúcar orgânico. Daqui a pouco vem o caqui. Não sou radical, mas quando a gente compra uma fruta que não é orgânica, a gente sente no sabor, tem gosto de isopor”, brinca o cliente.
Aos 75 anos de idade, Claudio sempre dá preferência a produtos orgânicos. Com gasto semanal de R$ 150 a R$ 200, o aposentado se diz satisfeito em ver o resgate de produtos de qualidade e incentiva sempre que pode os amigos e familiares a consumir produtos orgânicos. “O organismo reage melhor. A comida processada tem muito produto químico. A longo prazo, a gente acaba se expondo a doenças como o câncer”, comenta.
Feiras orgânicas: sucesso que se espalha por Curitiba
Em Curitiba, 14 feiras orgânicas oferecem produtos de qualidade semanalmente. A grande expansão das feiras na capital aconteceu no início dos anos 2000 e o número se estabilizou 10 anos atrás.
Com o Paraná sendo um dos estados com o maior número de produtores orgânicos do Brasil, segundo dados do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos (CNPO), do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Curitiba está a frente com o sucesso das feiras orgânicas em diferentes pontos de Curitiba.
>>> Acesse o Guia da Cidade e veja o endereço de todas as feiras de Curitiba
Alessandra Athayde, gerente das feiras livres da Prefeitura de Curitiba, revela que a expansão das feiras orgânicas em Curitiba têm sido uma demanda da própria população. “Na maioria das vezes, são os moradores que fazem uma solicitação, pedem feira orgânica”, esclarece.
Desde o fim da pandemia, a procura por orgânicos aumentou na capital. “Por experiência, vemos que o pessoal que frequenta as feiras orgânicas está na feira dos 30, 40 anos. É um público preocupado com a saúde e bem estar”, conta a gerente da prefeitura.

Com a popularização dos orgânicos, os preços tem diminuído significativamente. “Quanto mais pessoas procuram, mais acessível fica. Cereais, mel, bebidas, laticínios, frango orgânico, produtos que vão muito além do hortifrúti”, comenta a gerente da prefeitura.
Para garantir qualidade, todos os feirantes que participam das feiras orgânicas de Curitiba precisam de certificação. “As certificadoras fazem uma avaliação e listam quais produtos que podem ser comercializados. Alguns permissionados podem vender até sete tipos de produtos. A certificação tem prazo de validade e precisa ser renovada anualmente. Sem a certificação, não entra na feira”, explica.
Qualidade, sabor e saúde
Julio Kobe, produtor de orgânicos desde 2008, começou nas feiras de Curitiba e hoje oferece seus produtos no setor de orgânicos do Mercado Municipal. Com a família trabalhando na área há longas décadas, Kobe vê na produção de orgânicos uma relação de respeito com a natureza.
“Preservar a propriedade, manter as nascentes dos rios, não trabalhar com transgênicos, conhecer cada produtor. Em 2009, quando decidi fazer parcerias, fui conhecer as propriedades no interior. Produção orgânica é confiança, essa é a palavra. Para mim, mais do que conhecer de quem você compra é confiar. Tenho clientes há 15 anos, desde que abriu o setor no mercado. E tenho também clientes dos tempos de feiras. Eles voltam porque confiam e sabem da origem”, defende.
Quem compra orgânicos busca qualidade de vida e saúde. “Pessoas que estão com problemas de saúde, quem tem câncer, acabam procurando por orgânicos. Como não há químicos no alimento, a medicação funciona melhor. Quem busca qualidade de vida e quer dar aos filhos uma alimentação melhor, também passa a comprar orgânicos. Se antes o orgânico era mais caro e feio, hoje isso é mito. Já não é mais elitizado como era no passado”, revela.
Para Kobe, produtos orgânicos têm preço justo, que respeita toda a cadeia de produção. “O gosto do alimento é outro, é diferente. A durabilidade do orgânico também é maior. Tem tudo isso. É respeitar a terra, o tempo de produção. O alimento que busca nutrientes da terra, o manejo feito só com compostagem e adubo”.
Serviço
Confira a lista completa de feiras orgânicas por Curitiba:
Feira Orgânica Diurna Cabral
Às quintas-feiras, das 7 horas ao meio-dia
Endereço: R. Bom Jesus, 164
Feira Orgânica Diurna Emater
Às quartas-feiras, das 7 horas ao meio-dia
Endereço: R. da Bandeira, S/N
Feira Orgânica Diurna Jardim Botânico
Aos sábados, das 7 horas ao meio-dia
Endereço: R. Dr. Jorge Meyer Filho, S/N
Feira Orgânica Diurna Passeio Público
Aos sábados, das 7 horas ao meio-dia
Endereço: R. Pres. Faria, 550
Feira Orgânica Diurna Portão
Às terças, das 7 horas ao meio-dia
Endereço: R. Prof. Euro Brandão, 55
Feira Orgânica Diurna Praça da Ucrânia
Aos sábados, das 7 horas ao meio-dia
Endereço: R. Profa. Ephigênia do Rego Barros, S/N
Feira Orgânica Diurna Praça do Expedicionário
Às quartas-feiras, das 7 horas ao meio-dia
Endereço: R. Saldanha da Gama, S/N
Feira Orgânica Diurna Praça do Japão
Às quintas-feiras, das 7 horas ao meio-dia
Endereço: Pç. do Japão, S/N
Feira Orgânica Diurna Prefeitura
Às quartas-feiras, das 7 às 11 horas
Endereço: R. Papa Joao Xxiii, S/N
Feira Orgânica Diurna Santa Felicidade
Aos sábados, das 7 ao meio-dia
Endereço: R. Via Vêneto, 1275
Feira Orgânica Diurna Santa Quitéria
Aos sábados, das 7 horas ao meio-dia
Endereço: R. Capiberibe, 798
Feira Orgânica Diurna Seminário
Às terças-feiras, das 7 horas ao meio-dia
Endereço: R. Prof. João Argemiro Loyola, S/N
Feira Orgânica Noturna Ahú
Às quartas-feiras, das 15 às 19 horas
Endereço: R. Cel. Brasilino Moura, 783
Feira Orgânica Noturna Cristo Rei
Às terças-feiras, das 15 às 19 horas
Endereço: Av. Mal. Humberto de Alencar Castelo Branco, 683
>>> Especial Curitiba 332 anos. Leia todos os conteúdos:
- Feira noturna mais movimentada de Curitiba traz segurança e “vida” a bairro tradicional
- Chef de sucesso em Curitiba lembra de origem nas feiras livres
- Feira do Largo da Ordem: seleção de presentes originais por R$ 30
- Rango Barateza: Qual é o melhor pastel de feira de Curitiba?
- Entre risos e memórias, humorista curitibano relembra aventuras nas feiras de Curitiba
- O que comprar na feira para emagrecer? Zanon sugere opção super saudável
- Rango Barateza: ‘Volta ao Mundo’ de sabores nas feiras de Curitiba por até R$ 30
- Chef de sucesso em Curitiba lembra de origem nas feiras livres
- Feira do Largo da Ordem: seleção de presentes originais por R$ 30
- Feirante bom de prosa: seu Casemiro conquista clientela com simpatia há 39 anos