Prescrição médica: gargalhadas e doses intensas de carinho

Prescrição médica: gargalhadas e doses intensas de carinho

Foto: Atila Alberti

Projeto Tiatro leva arte e descontração aos pacientes internados

Por Nanda Dalitz, especial para a Tribuna do Paraná

Oferecer pitadas de humor, gargalhadas e uma dose extra de ânimo. Essa é a receita da Terapia Intensiva do Amor (TIA) para transformar o ambiente hospitalar em um espaço mais alegre e humanizado. Idealizado por Carol Alcova, o projeto existe desde 2008 e atualmente está presente em dez hospitais de Curitiba e Região Metropolitana com uma novidade na área do voluntariado hospitalar: um teatro móvel, completamente adaptado para esse tipo de ambiente.

Minha cidade é o meu mundo

“Durante a pandemia continuamos trabalhando, mas com atendimentos reduzidos, visitas gravadas e on-line. Naquele período, as ideias estavam borbulhando e eu estava empenhada em criar uma ação inovadora de voluntariado hospitalar, sem deixar os doutores palhaços de lado”, relembra a idealizadora.

Dessa forma surgiu o projeto Tiatro. O nome é também uma brincadeira em alusão à junção da sigla do projeto com a palavra teatro. A proposta consiste em reproduzir um teatro dentro do quarto do paciente, com direito a cartaz de exibição, venda de ingressos (figurativa, já que a peça é gratuita) e um cenário móvel adaptado para o ambiente. “A ideia é oferecer ao paciente a sensação de que ele está fora do hospital”, comenta Carol.

Atualmente, a peça em exibição no Tiatro é “Florecer em Tempos de Seca” e foi escrita pela Palhaça Belinha, nome artístico de Carol. A história narra a trajetória de uma palhaça que decide ser uma flor, e, junto de sua dupla, parte em uma missão à procura da melhor flor para se transformar no clima de cinzento de Curitiba.

Carol conta que foram necessárias diversas adaptações devido às exigências sanitárias do ambiente hospitalar. “Tudo na peça precisou ser adaptado para não apresentar riscos para os pacientes”, afirma. O cenário é móvel e não encosta no chão para prevenir infecções hospitalares. Os cartazes são plastificados para facilitar a higienização e até a duração da peça é pensada para não atrapalhar a rotina dos profissionais.

Foto: Atila Alberti

O projeto TIA surgiu do sonho de Carol em trabalhar em hospitais ajudando as pessoas. “Eu sempre sonhei em ser médica, mas logo cedo percebi que não seria possível cursar medicina. Então, quando surgiu a oportunidade de entrar para um voluntariado hospitalar, eu soube que não poderia perder”, afirma.

Carol dá vida à palhaça Belinha há 17 anos, levando alegria para os pacientes de diversas instituições. “É muito bonito ver como o projeto toca as pessoas. Até hoje, encontro ex-pacientes meus que conheci quando crianças e eles vêm me agradecer pela experiência que tiveram, muitos deles na infância”, relata.

Raphael Miotto, 20 anos, é uma dessas pessoas cuja vida foi impactada pelo projeto. Ainda criança, com apenas 6 anos, sofreu um acidente com álcool e teve 40% do seu corpo queimado. Internado no Hospital Universitário Evangélico Mackenzie – que é referência no Brasil para o tratamento de queimados – teve seu primeiro contato com os doutores palhaços.

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Ele conta que estava internado há mais de um mês e as dores pelo corpo não passavam. “Eu não aguentava mais e disse à minha mãe que queria morrer para não ter que sofrer mais. Ela saiu desolada do hospital naquele dia. Só que no dia seguinte, quando voltou, eu estava sorrindo e cercado de palhaços”, relembra Miotto.

As visitas que o grupo fez ao pequeno paciente transformaram a rotina cansativa do hospital em momentos de alegria. “Os doutores palhaços salvaram minha vida. Não teria conseguido passar por aquela fase sem as visitas deles. Aqueles encontros me marcaram tanto que, hoje em dia, faço parte do grupo também”, comenta o jovem que incorpora o Doutor Cora Joso na trupe.

Atualmente, a Terapia Intensiva do Amor conta com 17 doutores palhaços, mas está sempre aberta a quem quiser participar do projeto. Regularmente, a TIA abre processo seletivo para encontrar novos voluntários. Eles participam de um workshop para aprender a arte da palhaçaria e do voluntariado hospitalar. O projeto também conta com um brechó e sistema de apadrinhamento para sustentar financeiramente a instituição.

Foto: Atila Alberti