Por Nanda Dalitz, especial para a Tribuna do Paraná
Apesar dos avanços registrados nas últimas décadas, ainda são poucos os jovens brasileiros que chegam à universidade. Os números do Censo da Educação Superior 2022 no Brasil mostraram que apenas 24,2% dos jovens de 18 a 24 anos acessam o ensino superior. Ou seja, o diploma ainda é um sonho distante para muitos. E é com o objetivo de tentar amenizar esse quadro que surgiu a organização não-governamental Formação Solidária.
A iniciativa se dedica, há 22 anos, a preparar estudantes com poucos recursos financeiros para as provas de ingresso no ensino superior, transformando o sonho da universidade em um caminho possível. O projeto social começou quando o empresário Clécio Chiamulera, um dos fundadores da ong, conheceu Elias Bomfin, que hoje é o coordenador administrativo do projeto.
O público-alvo do Formação Solidária é atingir os jovens estudantes que não têm condições de pagar por um curso preparatório após o ensino médio, proporcionando oportunidades de ingressar na universidade. Desde 2002, mais de 10 mil estudantes frequentaram as aulas do projeto e pelo menos a metade deles conseguiu a vaga na faculdade desejada.
Chiamulera conta que o impulso inicial para a criação do projeto começou com um jovem que sonhava em entrar na faculdade, mas não tinha condições de pagar um cursinho. Sensibilizado e com vontade de ajudar o estudante, Chiamulera viabilizou uma bolsa de estudos em um dos mais tradicionais cursos preparatórios de Curitiba. “Anos depois, o Elias entrou em contato comigo com a ideia de criar o Formação Solidaria”, relembra.
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A primeira turma do cursinho solidário, em 2022, foi formada com o apoio de professores voluntários. Ao todo eram 40 alunos e um deles conseguiu a aprovação na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente, as turmas do preparatório comportam cerca de 500 alunos. Em 2023, 90 alunos foram aprovados na UFPR e outros 150 em faculdades particulares por meio do Programa Universidade para Todos (Prouni), iniciativa do Governo Federal que oferece bolsas de estudo integrais e parciais em instituições privadas de ensino superior.
SONHO ALCANÇADO
O universitário Gabriel Ribeiro, 25 anos, é um exemplo do sucesso do projeto. Com o apoio das aulas oferecidas pela ong, ele foi aprovado no curso de Medicina da UFPR. “Conheci o projeto no ensino médio e tive que passar pelo processo seletivo duas vezes até conseguir uma bolsa. Depois disso, foram três anos de dedicação até alcançar a aprovação no curso dos meus sonhos”, relata.
Para obter uma bolsa no cursinho solidário, os candidatos passam por um processo seletivo dividido em duas etapas, a prova teórica e a entrevista socioeconômica. A prova é composta por 48 questões objetivas das disciplinas de Matemática, Português, Química, Física, Biologia, História e Geografia.
Na segunda fase, o estudante responde um questionário e participa de uma entrevista com um assistente social. É nessa etapa que a equipe da ong se assegura de que as bolsas estão sendo distribuídas para estudantes com poucos recursos financeiros.
Entre os requisitos exigidos dos alunos estão: ter frequentado escolas públicas ou ter sido bolsistas em colégios da rede privada; estar matriculado no último ano do ensino médio ou já ter concluído; apresentar renda familiar mensal de até um salário-mínimo por pessoa.
Atualmente, o Formação Solidária conta com 25 professores voluntários, incluindo Miko Monteiro, que ministra aulas de geografia desde 2008. “É gratificante poder ajudar jovens que não teriam condições de pagar por um cursinho a realizar o sonho de entrar na universidade. O país enfrenta uma grande desigualdade social e é reconfortante saber que estamos mudando isso”, destaca o professor.
VAGAS REMANESCENTES
Em 2024, a capacidade das turmas do cursinho solidário aumentou para 500 vagas. Desta forma, ainda há vagas remanescentes para quem se inscrever. Como as aulas deste já começaram, aqueles que se inscreverem não precisarão realizar a prova teórica, apenas confirmar a situação socioeconômica.